CONHEÇA O PROJETO DE LITERATURA QUE MUDOU A VIDA DE JOVENS

 Amores : O relato que postarei agora é a realidade de centenas de crianças que não vendo alternativas, migram para atividades ilegais, como únco recurso que vislumbram e o caminho mais fácil. Leiam o texto, postem seus comentários e levem para a live as suas impressões. Logo após, faremos uma pequena atividade pontuada no google forms. Bom trabalho !!

CONHEÇA O PROJETO DE LITERATURA QUE UNIU AS VIDAS DE JECONIAS, ALESSANDRO E THIAGO:


A gente chama o traficante de “Pai”

Thiago Alves Moreno, 26 anos

 

“Desde os 13 anos, eu moro sozinho. Comecei a traficar com 12, na Favelinha, uma área do Recanto das Emas. Só entende isso quem sabe da realidade. Não tinha cama na minha casa, era um colchão no chão. Quando meu pai saía pra trabalhar, tinha que pular por cima da gente. E ele dizia: ‘Esses vagabundos vão ficar dormindo?’. Isso a gente era criança. Fiz até a sétima série, porque meu foco era ganhar dinheiro.

Uma criança que nem eu já cresce na ira. Meu pai era alcoólatra, vendeu a nossa casa e gastou tudo com bebida. Ele nos  xingava e nos batia. Não tinha teto, não tinha comida, a gente vivia no esgoto a céu aberto. Como que eu ia abrir a porta para viver fora da guerra? Todo dia tinha três, quatro, mortos na rua. Precisava pular o cadáver para ir à escola. Nunca sonhei com nada, nunca me imaginei fora daquilo.

Com 14 anos, eu vendia 2 kg de maconha em uma semana. Não tinha nem guarda-roupa, ficava tudo na mochila. Eu achava que aquilo era um ganha-pão. Comecei de aviãozinho, ia buscar lanche para o traficante. Depois fui ser vapor, comecei a vender. Se agrada ao patrão, você vai crescendo até ser o braço direito dele.

Quando eu tinha 13 anos, tentaram arrancar meu braço com um facão numa briga por ponto de venda de droga. Levei 52 pontos. A cicatriz foi diminuindo enquanto eu crescia, mas ainda está aqui. Tenho marca de tiro e de outra facada também. Tudo isso antes dos 15 anos. É um milagre eu estar vivo.

A gente chama o traficante, o chefe, de pai. Pega uma arma e diz: ‘Ó como eu tô bonito, pai’. Minha primeira medida socioeducativa foi com 14 anos. Ali você tem que decidir se é 100% do crime ou 100% trabalhador. Na primeira opção, você esquece que tem família e vai viver para o tráfico. Fui até o Paraguai buscar droga. Eu tinha a chance de ganhar em um dia três vezes o que receberia por um mês num serviço comum. Só que nessa o crime leva o que você tem de mais precioso, a alma.

Tem um ditado que diz: ‘C. Os caras vão ficando ricos e saem da favela. Até que ficam só os ‘de menor’ na linha de frente. Quem está levando tiro é o soldadinho. Eles vão criando soldados e ligeiramente se desligam dali. O peso fica nas costas da criança e do adolescente, que são o ponto de equilíbrio da bocada.

Quando eu tinha 18 anos, o Yago, meu filho, nasceu. Aí pensei: ‘Não vou deixá-lo viver com um pai ausente’. Tenho três filhos, já catei lixo, sou carpinteiro, pedreiro. Mas não é fácil, agora mesmo estou desempregado. Não falta convite para o mal. Escrevi na parede do quarto: ‘A carne é fraca quando a conduta não é forte’. Se não me conhece, não me odeie. Estou tentando escrever uma história diferente.”

 

 


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