Eu sou Malala - A menina que lutou pelo direito de estudar - 22/7/2021

 Amores :

Postamos aqui, o livro disponível no E-PUB : EU SOU MALALA. Leiam o prólogo, assistam ao vídeo  e respondam às questões colocadas. Vale a pena conhecer a história dessa corajosa menina. 



Prólogo : O dia em que meu mundo mudou 

Venho de um país criado à meia-noite. Quando quase morri, era meio-dia. Há um ano saí de casa para ir à escola e nunca mais voltei. Levei um tiro de um dos homens do Talibã e mergulhei no inconsciente do Paquistão. Algumas pessoas dizem que não porei mais os pés em meu país, mas acredito firmemente que retornarei. Ser arrancada de uma nação que se ama é algo que não se deseja a ninguém. Hoje, quando abro os olhos de manhã, anseio por ver meu velho quarto, com as minhas coisas, as roupas todas no chão e os troféus que ganhei na escola nas prateleiras. Mas agora moro em um país que fica a cinco horas de distância de minha querida terra natal, o Paquistão, e de minha casa, no vale do Swat. Meu país fica séculos atrás deste em que estou agora. Aqui existem todas as comodidades que alguém pode imaginar. Há água corrente em todas as torneiras — quente ou fria, como você preferir —; luz a um toque do interruptor, dia e noite, sem necessidade de lamparinas a óleo; fogões nos quais se cozinha sem precisar comprar bujões de gás no mercado. Aqui tudo é tão moderno que podemos até mesmo encontrar comida pronta e embalada. Quando me ponho à frente da janela e observo a paisagem, vejo edifícios altos, longas avenidas cheias de carros movendo-se em filas organizadas, gramados bem cuidados e calçadas limpas por onde caminhar. Fecho os olhos e por um momento volto a meu vale — às montanhas de topo coberto de neve, aos campos verdes ondulantes, aos refrescantes rios azuis. Meu coração sorri quando me lembro dos habitantes do Swat. Meu pensamento me leva até a escola e lá eu me reúno com minhas colegas e professoras. Encontro Moniba, minha melhor amiga, e nos sentamos juntas, conversando e brincando, como se eu nunca tivesse saído de lá. Então eu me recordo de que estou em Birmingham, Inglaterra. Tudo mudou em uma terça-feira, 9 de outubro de 2012. Não era a melhor das datas, uma vez que estávamos bem no meio das provas escolares. Mas, comogosto de livros, as provas não me incomodam tanto quanto a algumas de minhas colegas. Naquela manhã chegamos à pequena ruela lamacenta, próxima da avenida Haji Baba, em nossa habitual procissão de riquixás pintados em cores vivas, lançando fumaça de óleo diesel, cada qual carregando cinco ou seis meninas. Desde a época do Talibã, a escola não tem mais placa, e o portão ornamental de bronze em um muro branco, do lado oposto ao pátio do artesão, não dá sinais do que existe além dele. Para nós, meninas, aquele portão é como a entrada mágica para um mundo especial. Assim que o atravessamos, imediatamente tiramos nossos hijabs, da mesma maneira como o vento afasta uma nuvem em um dia de sol, e subimos correndo os degraus. No topo da escada fica um pátio aberto, com portas dando para as nossas salas de aula, onde largamos nossas mochilas. Então nos reunimos para o encontro matinal sob o céu, de costas para as montanhas, em pé, atentas. Uma menina comanda: “Assaan bash”, que significa “descansar”. Batemos nossos saltos no chão e respondemos: “Allah!”. A menina então fala: “Hoo she yar”, que quer dizer “atenção”. Batemos nossos saltos mais uma vez: “Allah!”. A escola foi fundada por meu pai antes de eu nascer, e na parede acima de nós vê-se o nome “Escola Khushal” pintado, orgulhosamente, em letras vermelhas e brancas. Vamos à escola seis manhãs por semana, e, como menina de quinze anos da turma 9, minhas aulas são compostas de declamações de equações químicas, dos estudos de gramática urdu, da redação de histórias em inglês com morais como “A pressa é inimiga da perfeição” e de desenhos de diagramas da circulação sanguínea — a maior parte de minhas colegas quer ser médica. É difícil imaginar que alguém possa ver isso como ameaça. Porém, do lado de fora da escola, não há apenas o barulho e a loucura de Mingora, a principal cidade do Swat, mas também homens que, como os do Talibã, pensam que meninas não devem receber educação formal. Aquela manhã de terça-feira começou como qualquer outra, embora um pouco mais tarde do que o normal. Era época de provas, e então as aulas tinham início às nove horas em vez de às oito, o que era bom, pois não gosto de acordar cedo e consigo dormir mesmo com o cacarejar dos galos e o chamado do muezim para as orações. Meu pai foi o primeiro a tentar me acordar: “Hora de levantar, jani mun”. Essa é a expressão persa para “alma gêmea”, e ele sempre me chama assim no começo do dia. “Só mais uns minutinhos, Aba, por favor”, implorei, escorregando ainda mais para debaixo da colcha. Então minha mãe entrou no quarto: “Pisho?”. Ela me trata por pisho, que significa “gata”. A essa altura me dei conta da hora e gritei, “Bhabi, estou atrasada!”. Em nossa cultura, todo homem é “irmão” e todamulher é “irmã”. É esse o modo como consideramos um ao outro. Quando meu pai levou minha mãe à escola pela primeira vez, todos os professores se referiram a ela como “esposa de meu irmão”, ou bhabi. O apelido carinhoso pegou, e agora todos a chamamos de Bhabi. Eu dormia no cômodo comprido que fica na parte da frente de nossa casa. Os únicos móveis eram uma cama e um criado-mudo, que comprei com parte do dinheiro que recebi como prêmio por fazer campanha pela paz em nosso vale e pelo direito de meninas frequentarem a escola. Em algumas das prateleiras ficavam os troféus de plástico dourado que ganhei por ser a primeira da turma. Apenas em dois anos eu não ficara em primeiro lugar — nas duas vezes fui derrotada por minha adversária, Malka-e-Noor. Estava determinada a não deixar que isso acontecesse de novo. A escola não ficava muito longe da minha casa, e eu costumava fazer o percurso a pé, mas desde o início de 2012 passei a ir com as outras meninas, usando o riquixá. Na volta, tomava o ônibus. Eu gostava do ônibus porque nele eu não suava tanto como quando caminhava, além de conversar com minhas amigas e fofocar com Usman Ali, o motorista, a quem chamávamos de Bhai Jan, ou “irmão”, e que fazia todas nós rirmos com suas histórias malucas. De casa até a escola são apenas cinco minutos de caminhada, seguindo pela margem do córrego, passando pelo grande letreiro do Instituto de Transplante Capilar do dr. Humayun, onde, brincávamos, um de nossos professores carecas decerto se tratara, pois de repente começou a ter cabelo. Passei a tomar o ônibus porque minha mãe começou a sentir medo de que eu andasse sozinha. Tínhamos recebido ameaças o ano inteiro. Algumas estavam nos jornais, outras vinham na forma de bilhetes ou de mensagens transmitidos pelos moradores. Minha mãe andava preocupada comigo, mas a milícia talibã nunca atacara uma menina e eu estava mais preocupada com a hipótese de que eles talvez visassem meu pai, que sempre os criticava publicamente. Seu grande amigo Zahid Khan havia sido morto em agosto, com um tiro no rosto, a caminho da mesquita, e eu sabia que todo mundo vivia dizendo a meu pai: “Cuidado, você será o próximo”. Não se podia entrar de carro em nossa rua. Por isso eu descia do ônibus uma quadra abaixo, perto do rio, atravessava um portão de ferro e subia um lance de escada. Imaginei que, se alguém quisesse me atacar, seria ali, nos degraus. Como meu pai, sempre fui de sonhar acordada, e às vezes, durante as aulas, minha mente flanava e eu pensava que no caminho de volta para casa um terrorista podia aparecer e atirar em mim naquela escada. Então me perguntava o que faria. Talvez tirasse meu sapato e batesse nele, mas logo depois me dava conta de que, seagisse assim, não haveria diferença entre mim e o terrorista. Seria melhor dizer: “Certo, atire em mim, mas primeiro me escute. O que você está fazendo é errado. Pessoalmente, nada tenho contra você. Só quero ir à escola”. Eu não estava assustada, mas passei a verificar, à noite, se o portão de casa estava mesmo trancado. E comecei a perguntar a Deus o que acontece quando a gente morre. Contei tudo à minha melhor amiga, Moniba. Morávamos na mesma rua quando pequenas, somos amigas desde a época do ensino fundamental e dividíamos tudo: músicas do Justin Bieber, filmes da série Crepúsculo, os melhores cremes clareadores. Seu sonho era virar designer de moda, apesar de saber que sua família jamais concordaria; então dizia a todo mundo que queria ser médica. É difícil, para as meninas de nossa sociedade, ser qualquer coisa que não professora ou médica — isso, se quiserem trabalhar. Eu era diferente. Nunca escondi minha vontade, quando deixei de querer ser médica para ser inventora ou política. Moniba sempre sabia quando algo não ia bem comigo. “Não se preocupe”, eu lhe dizia. “Os talibãs nunca pegaram uma menina.” Quando nosso ônibus chegou, descemos a escadaria correndo. As outras meninas cobriram a cabeça antes de sair para a rua e subir pela parte traseira do veículo. O ônibus, na verdade, é uma dyna, uma Toyota TownAce branca com três bancos paralelos, um ao longo de cada lateral e um no meio. Estava lotado, com vinte meninas e três professoras. Eu me acomodei à esquerda, entre Moniba e Shazia Ramzan, que estudava uma série abaixo da nossa. Carregávamos nossas pastas de provas contra o peito, e as mochilas estavam no chão. Depois disso, minhas lembranças se embaralham. Eu me lembro de que dentro d a dyna fazia muito calor e estava abafado. Os dias mais frios demoravam a chegar, e só o topo das montanhas longínquas da cordilheira Hindu Kush tinha um pouco de neve. O fundo do veículo, onde estávamos sentadas, não tinha janelas, apenas uma proteção de plástico grosso cujas laterais batiam na lataria. Era amarelada demais, empoeirada demais, não dava para ver nada através dela. Só o que podíamos observar era um pedacinho de céu limpo e azul, além de olhar de relance para o Sol — naquela hora do dia, um círculo amarelo flutuando na poeira que cobria tudo. Também recordo que o ônibus virou à direita na rua principal, na altura do posto de controle do Exército, e dobrou a esquina depois do campo de críquete abandonado. Não me lembro de mais nada. Em meus devaneios sobre o ataque, meu pai está no ônibus e é atingido comigo. Então aparecem homens em todos os lugares e saio para procurar Ziauddin. Na realidade, o que aconteceu foi que o ônibus parou de repente. À nossa esquerda estava a tumba coberta de grama de Sher Mohammad Khan, o ministroda Fazenda do primeiro governante do Swat, e à nossa direita a fábrica de salgadinhos. Devíamos estar a menos de duzentos metros do posto militar. Não conseguíamos ver adiante, mas um jovem barbudo, vestido em cores claras, invadiu a pista e, acenando, fez o ônibus parar. “Este é o ônibus da Escola Khushal?”, perguntou a Bhai Jan. O motorista achou aquela uma pergunta idiota, já que o nome estava pintado na lateral do ônibus. “Sim”, respondeu. “Quero informações sobre algumas das crianças”, o homem disse. “Então você deve ir à secretaria da escola”, orientou-o Bhai Jan. Enquanto ele falava, outro rapaz, de branco, aproximou-se pela traseira do veículo. “Olhe, é um daqueles jornalistas que vêm pedir entrevistas a você”, disse Moniba. Desde que eu começara a falar em público com meu pai, para fazer campanha pela educação de meninas e contra aqueles que, como o Talibã, querem nos esconder, muitas vezes apareciam jornalistas, até mesmo estrangeiros, mas nunca daquele jeito, no meio da rua. O homem usava um gorro de lã tradicional e tinha um lenço sobre o nariz e a boca, como se estivesse gripado. Parecia um estudante universitário. Então avançou para a porta traseira do ônibus e se debruçou em nossa direção. “Quem é Malala?”, perguntou. Ninguém disse nada, mas várias das meninas olharam para mim. Eu era a única que não estava com o rosto coberto. Foi então que ele ergueu uma pistola preta. Depois fiquei sabendo que era uma Colt .45. Algumas meninas gritaram. Moniba me contou que apertei sua mão. Minhas amigas disseram que o homem deu três tiros, um depois do outro. O primeiro entrou perto do meu olho esquerdo e saiu abaixo do meu ombro esquerdo. Caí sobre Moniba, com sangue espirrando do ouvido. Os outros tiros acertaram as meninas que estavam perto de mim. A segunda bala entrou na mão esquerda de Shazia. A terceira atingiu seu ombro esquerdo, acertando também a parte superior do braço direito de Kainat Riaz. Minhas amigas mais tarde me contaram que a mão do rapaz tremia ao atirar. Quando chegamos ao hospital, meu cabelo longo e o colo de Moniba estavam cobertos de sangue. Quem é Malala? Malala sou eu, e esta é minha história.

Tarefa



1.   Ler o prólogo  do Livro “ EU SOU MALALA,” ( pg. 10 a 14)

2.   Assistir ao video postado no youtube : 


https://www.youtube.com/watch?v=T2u39aIsK9U



3.           Pesquisar  :

a.           O mapa do Paquistão e suas fronteiras

b.           O significado das palavras desconhecidas, entre outras : hijabs, riquixás, muezin;

c.           Informações sobre o “Vale do swat”, no Paquistão

d.           Informações sobre o regime Talibã

 

 

4. Levar para a  “live” de 22/7, as respostas para  as seguintes perguntas :

1.Por que Malala se refere ao Paquistão como um país que nasceu à meia noite ? 

2.Onde vivia Malala ? Por que teve que sair do Paquistão ?

3.Você percebe na fala da autora, algum sentimento de saudade ou nostalgia  por sua terra natal ? Justifique sua resposta com um trecho do texto.

4.           Como era o  relacionamento com os seus pais ?

5.           Que aspectos da cultura paquistanesa ela nos revela ?

6.           O que nos conta sobre a sua escola e a maioria das meninas que lá estudavam ?

7.           O que mudou com a chegada dos talibãs ao poder ?

8.           Justifique o título do livro ( EU SOU MALALA)

 


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